Há algum tempo, tenho falado com
meus amigos sobre este assunto e, por isso, resolvi passar minhas ideias para o
papel – ou melhor, para o computador. Até mesmo para organizar o pensamento em
torno dessa questão e também colocá-la em discussão.
Afinal como se pode definir a
verdade? Ou melhor dizendo, como podemos defini-la aos olhos da doutrina
espírita? A tarefa é complexa, por isso tentarei expô-la da forma mais simples
que eu puder.
Compreendemos o espiritismo como
sendo uma filosofia, uma ciência e uma religião. Assim sendo, para entendermos
a óptica espírita acerca da verdade, devemos, antes de tudo, compreender a
óptica própria destes três campos, separadamente.
Comecemos, então, pela filosofia:
para ela, a verdade não é algo que se possa definir, entretanto, é aceito por
boa parte dos filósofos que a verdade reside no pensamento lógico comprovado
pela experiência prática. Ou seja, para que uma ideia seja considerada
parcialmente verdadeira, esta deve ser no mínimo lógica e comprovada por meio
de evidências experimentais. Entretanto, para a filosofia, mesmo que uma ideia
satisfaça essas exigências básicas, ela não corresponde à verdade e sim, a uma
parcela dela e pode, futuramente, simplesmente deixar de ser verdadeira. Esse
conceito de verdade se aproxima, então, da ótica da ciência.
A ciência, ao contrário do que
muitos pensam e pregam, não é determinista e encara a verdade mais ou menos
como a filosofia. E, apesar de tomar como verdadeiro somente aquilo que pode
ser percebido pelos sentidos, não descarta a possibilidade de que outros
fatores, não observáveis até o momento da experiência, possam influenciar em
futuras experimentações.
Na verdade, os cientistas até
curtem, quando algo que era tomado como certo deixa de ser, pois, ao invés de
se frustrarem com isso, eles enxergam nisso uma nova lei, e, portanto, um novo
campo de trabalho e pesquisa.
Dessas duas ópticas, tão
similares, daremos um salto para a óptica da religião, pois ao contrário das
duas anteriores, ela tem uma visão determinista e pouco abrangente, pelo menos
no quadro atual.
Antes de falarmos da óptica
religiosa, queremos deixar claro que, tomaremos como referência, apenas as
religiões ditas cristãs. Pois bem, para essas religiões, a verdade é a verdade
que está na palavra de Deus, que, por sua vez, está sintetizada na bíblia
sagrada. Desse modo, não poderíamos aqui fazer qualquer comentário sem correr o
risco de ferir a liberdade religiosa dos amigos leitores, que por ventura,
aceitem essa óptica de verdade. Entretanto, podemos dizer que o Espiritismo não
pensa assim, pois, no que diz respeito aos textos bíblicos,a doutrina espírita
aceita como verdade somente aquilo que satisfaça à razão e que não contradiga a
perfeição, a bondade, a onipotência, a onipresença e a justiça de Deus.
Enfim, chegamos à óptica
Espírita.
Como vimos, para a filosofia e
para a ciência, a verdade está na lógica e na experimentação, enquanto que para
a religião está somente nos textos bíblicos. Assim, de forma resumida, é fácil
percebermos que há um abismo entre a religião e os outros dois campos de
conhecimento (Filosofia e Ciência). Mas, então, como o Espiritismo pode atuar
nestes três campos sem sofrer nenhuma contradição em suas bases? Isso é bem
simples. Assim como a filosofia e a ciência, o espiritismo entende como parcela
de verdade tudo aquilo que é lógico e que possa ser comprovado
experimentalmente, entretanto, os argumentos filosóficos do espiritismo compartilham
das mesmas máximas morais do cristo. E têm como objetivo o autoconhecimento e a
ascensão do espírito até Deus. Portanto, tomando como base as palavras do
próprio Jesus, que disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
podemos dizer que a doutrina espírita entende uma ideia como verdadeira, desde
que ela seja lógica, experimentalmente comprovada e, sobretudo, libertadora.