Hoje, os fenômenos da mediunidade
têm sido explorados não somente dentro dos centros espíritas. Há manifestações
em todos os campos da vida como, aliás, sempre houve, a diferença é que, na
atualidade, esta faculdade começa a ser reconhecida e, assim, ela tem assumido
seu devido lugar.
Entretanto, as manifestações
mediúnicas, por mais comuns que sejam, ainda não são compreendidas, e nisso os
espíritas de nossos dias têm grande culpa, sobretudo, por não terem dado o
devido valor aos estudos kardecianos. Um dos eventos que denuncia nossa ignorância
doutrinária é o fato de que admitimos como válidas, alguns até como sublimes,
as manifestações de espíritos que ainda permanecem fortemente ligados às impressões
materiais. Falaremos aqui, especialmente, dos chamados eres,
"espíritos" comuns nas manifestações presentes nas religiões
afro-brasileiras.
A questão capital, que os
espíritas verdadeiramente atentos devem fazer, é se essas comunicações são
possíveis e, se sim, em que circunstâncias elas se dão e qual o seu objetivo,
pois, tomando como princípio as leis divinas que regem igualmente todo o
universo, devemos entender que toda afirmação verdadeira deve obedecer ao
princípio básico da verdade, que é a lógica.
Sendo assim, façamos a seguinte
reflexão:
- Se um espírito tão apegado à
matéria, ao ponto de manter-se prisioneiro na forma de uma criança, pode tomar posse,
por assim dizer, do corpo de um adulto, submetendo-o a posturas ridículas como
chupar chupeta, brincar de bonecas, chorar como se fora um bebê etc., devemos
também aceitar que uma criança encarnada poderia fazer o mesmo com uma pessoa
adulta.
Sabendo que isso é algo impossível, colocamos
em xeque a possibilidade da manifestação - pelo menos nos moldes em que ela
comumente se apresenta. Afinal, a infância é uma faze restrita somente à
condição humana e, nesse caso, como bem sabemos, são as crianças que estão sujeitas
aos conselhos e direcionamentos educacionais dos adultos, e não o contrário.
Entretanto, por mais ilógicas que
pareçam tais manifestações, temos evidências de sua ocorrência – considerando,
evidentemente, somente aquelas que são verídicas, excluindo de nossa abordagem
todo e qualquer indício de fraude.
Pois bem, é um fato que elas
ocorrem, e, como falamos anteriormente, precisamos verificar a utilidade
prática disso, bem como analisar suas circunstâncias.
Devemos excluir a possibilidade
de que um espírito-criança possa nos dar algum conselho de ordem moral - pois
se tal espírito não consegue sequer transpor essa barreira material, que se dirá
em relação a alcançar alguma verdade divina. Assim sendo, vamos nos ater às questões
relativas ao auxílio. Nesse campo, sim, as manifestações de espíritos-crianças
parecem ganhar não somente lógica, mas justifica-se pela utilidade e o objetivo
caridoso que tal ato encerra. Já que, depois de recobrada a consciência de sua
verdadeira personalidade e seu real estado - ou seja, nem o de criança nem o de
defunto, mas simplesmente a de um Espírito livre - espera-se que a entidade
retome sua caminhada evolutiva desfazendo-se das amarras que lhe prendiam às
impressões da vida física.
Em relação a essa questão,
alertamos que aqueles que atuam nestas áreas da mediunidade - que não são,
necessariamente espíritas - devem entender que, fazer com que um espírito
permaneça nesta condição tão pequena, somente para satisfazer os seus ritos é,
antes de tudo, uma atitude anticaridosa. Obviamente, esse assunto nos conduz a
outros como os que remetem aos caboclos, pretos velhos, exus e tantos outros. Mas pensamos que nos estenderíamos muito e, além disso,
julgamos que a mesma máxima, com a qual avaliamos o perfil dos eres (a saber: o
trecho grifado no parágrafo anterior), sirva para essas outras denominações.
Lembramos que as manifestações de
espíritos dessa ordem, acontecem mais comumente nos chamados terreiros de
umbanda, aos quais nós dispensamos o devido respeito. Entretanto, não raro,
vemos grupos espíritas adotando práticas sincretistas a título de não parecerem
excludentes e separatistas. Quanto a isso, não posso deixar de dizer que
atitudes desse nível revelam tão somente falta de personalidade
religiosa-filosófica e uma grande e lastimável ausência de convicção na
doutrina que o espírita diz professar.
Quando Kardec perguntou aos
espíritos se o Espiritismo seria a religião do futuro, os Espíritos lhe
responderam que não. Disseram que o Espiritismo seria o futuro das religiões.
Isso implica compreender que adotarmos manifestações de caráter primitivo e
nada esclarecedoras representa um retrocesso. Isso coloca os centros
"espíritas", que adotam esses tipos de manifestações, em um grau maior
de culpabilidade, e, por que não dizer?, em um grau de barbárie. Já que
entregam àqueles necessitados a chave da ignorância negando-lhes a do conhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário