- Tu vê, Ritinha?
- Vejo o quê, Josué?
- O esprito de painho, que caminha no caminho.
Vem de branco, vem vuando, vem sartando,
à direita tem um homi
e à esquerda uma muié.
- Oxi, Josué! Que bestara é essa agora?
Tu tá vendo alma penada?
Crê em Deus pais, eu vô me embora!
- Ó Ritinha! Minha irmã, sinta medo disso não,
é Jésuis que tá cum ele. E ele diz pra nós tê fé
e a mulé a sua esquerda é Maria de Nazaré.
- Josué, tu me prometi?
- Prometo uque, Ritinha?
- Que esta história de malassombro tu num conta pra mainha.
- Mas por que num deveria?
É painho que quer falar!
- Mas se for doidice tua,
mainha vai te interná.
- Tu num acredita em mim?
- Acredito Josué!
- Então, mainha, que é fié, haverá de me ter fé.
Pois foi ela tão guerrera, carrego-me nos seus bucho...
Foi das mão de vó partera, que, nuzinho, vim ao mundo.
Tenho fé que nossa mãe haverá de me acreditá,
saber que painho tá vivo e que está a lhe ampará.
- Eu entendo Josué! Porque sou muito devota.
E por isso eu rezo a Deus, Jesus e Nossa Senhora.
Que te ampare no caminho dessa estrada tortuosa.
E que nosso bom painho encontre a sua rota,
Ave, Sinto até uns arrupio de deixá a ispinha torta.
- Már Ritinha, minha irmã!
- O que foi, ó Josué!
- Tenha medo disso não!
- Már se essa alma penada vem a mando do Cão?
- Neste caso minha irmã,
ele tá em contradição,
pois se tá cum Jesus Cristo
é um Diabo muito bão!
- Josué intão me diga!
- Digo u quê tu quisé?
- Tu pode falar cum eles?
- Posso sim! O que tu qué sabê?
- Pergunte se eles sabi
se um dia vou casar!
- Painho tá dizendo que dessas coisas
num tem tempo pra falá!
- Então, de quê te serve
falar cum assombração,
se nem pra tua própia irmã
pode achar um moço bão!?
- Painho diz que casamento
é coisa daqui da terra,
mas que, para os nossos dias,
isso é coisa muito séria.
Diz que tu tá se perdendo
correndo atrás de homi,
diz que perde tua carne
quando o esprito é tem fome.
- Que cunversa mais éxtranha agora é essa Josué?
Num intendi do que tu disse nenhum pingo de palavra,
mas to vendo que essa alma qué me vê é encalhada.
- Ritinha, minha filha!
- Josué, é você?
- Não, pequena, sou seu Pai.
- Sai pra lá Cão dos Inferno, sai de rétro Satanás.
- Ritinha, não seja cega,
como os outros desta terra,
vim de pronto, em teu socorro,
em resposta a tua reza.
Filha minha, não se queixe,
não se zangue, não se entristeça,
dê força a Josué,
pra que ele não enfraqueça.
Diga a sua amada mãe,
minha esposa de outros dias,
que a acompanho deste lado
e a espero com alegria.
- Painho, se é tu mesmo,
tua filha aqui implora
me diga de um segredo:
peço que me dê uma prova!
- Quando eras bem pequena,
de tudo tu sentia medo,
eu falava em teu ouvido, bem baixinho como segredo:
Tu és minha rosa, filha.
e você me abraçava e depois me dava um beijo.
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