Certa vez ouvi a poetisa mineira Adélia Prado, que é bastante conhecida também por seu trabalho junto a igreja católica, durante um colóquio, afirmar que Santa Teresa de Ávila, após seus êxtases místicos, dizia: "Mais um minuto e eu teria morrido..."
Tal personagem santa e histórica é admirada por muitos, quer por seu exemplo narrado, quer pelos registros de seus depoimentos. Há inclusive um poema anônimo lhe foi atribuído e que foi vertido para o português por ninguém menos do que pelo nosso poeta Manuel Bandeira.
O poema é primoroso na sua construção (é um soneto) e é um exemplo de entrega e comoção no caminho da luz, pois de profundo respeito ao exemplo do Cristo e ainda que sendo uma santa da igreja católica nos dá um exemplo muito próximo da verdade espírita, em todo ele, mas, sobretudo, no primeiro terceto do poema: não precisamos do céu ou do inferno para praticar a caridade cristã e também para saber que não viver nesse amor é já estar condenado à distancia do mesmo que o Cristo quis e isso é pior que as sugestões de inferno que a igreja católica tanto propagou.
[Soneto anônimo / atribuído a Teresa de Ávila, 1515-1582]
Ao Cristo crucificado
Não me move, Senhor, para querer-te,
o céu que me hás um dia prometido;
nem me move o inferno tão temido,
para deixar por isso de ofender-te.
Move-me tu, Senhor, move-me o ver-te
cravado nessa cruz e escarnecido;
move-me no teu corpo tão ferido
ver o suor de agonia que ele verte.
Move-me ao teu amor de tal maneira,
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.
que a não haver o céu eu te amara
e a não haver o inferno te temera.
Nada tens a me dar porque te queira
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.
pois se o que ouso esperar não esperara,
o mesmo que quero te quisera.